quarta-feira, 31 de julho de 2013

Chapada Diamantina - Bahia

Aos 20 anos, conheci uma baiana simpática numa fila de ônibus em São Paulo. Nosso destino era o mesmo: show do Cordel do Fogo Encantado (que continua na lista das minhas bandas favoritas).
Conversa vai, conversa vem... ela disse que a Bahia não é só praia e que nasceu no lugar mais bonito daquele estado.
O interesse veio e foi aí que a paixão começou. Eu precisava ir até lá!
Passados 8 anos, finalmente, conheci o Parque Nacional da Chapada Diamantina.

A viagem foi em julho de 2013 (ano passado), mas só agora resolvi deixar registrado este meu momento tão mágico. Infelizmente, perdi as anotações com referências de pousadas, restaurantes e, principalmente valores e gastos. O relato será "de cabeça".

1º dia (24 de julho)
Segundo o google maps, a cidade onde moro fica 736 km distante de Lençóis, com 10h 44 de viagem.
Mas não contaram com as obras na BR 116, resultando em quase 13h, 750 km depois.
O cansaço sumiu quando percebemos a Chapada lá longe. Aquele paredão imponente no horizonte, ao final da tarde.
E as placas de boas vindas me enchendo de empolgação.

Acabados, fomos direto para o centro de Lençóis. Numa pousada bem localizada, com uma ruazinha de pedras, muito charmosa. Se a memória não me trair, chama-se Pousada da Lua Cheia.
Ambiente absolutamente família. A mãe e os filhos tocam o lugar juntos. Quesitos localização, higiene, café da manhã e atendimento, nota 10! A única coisa que incomodou foi o banheiro muito, muito apertado. Ficava com a impressão de que ia bater a cabeça no próximo movimento.
Mas não arranhou a imagem da pousada.

Banho e cama!

2º dia

Cedinho, tomamos aquele café supimpa e caímos na estrada. Entusiasmo nas alturas.
Destino: Gruta da Lapa Doce

No caminho, o Morro do Pai Inácio. Coisa bonita de ver!

Morro do Pai Inácio

Fiquei só no gostinho. Gruta da Lapa Doce nos esperava.
Fica no município de Iraquara. Uns 70 km de Lençóis.
Tudo bem sinalizado. Placas em todo lugar.
Sem contar os moradores, sempre dispostos a ajudar.
Pegamos a BR 242, entramos na BA 432 e uma estradinha de terra até a Fazenda da Lapa Doce.
Após as devidas informações sobre o local, apresentadas pela responsável, começamos o passeio.



Do ponto de partida até a gruta, a trilha tem um pouco mais de 500m de descida. 

Trilha fácil e o guia ofereceu muita informação sobre flora e fauna local. Eis que conheci um mocó!

Fofinho!


O guia disponibilizou lanternas, pra amenizar o breu absoluto. Durante o percurso, tive o momento "pânico". Quando ele pede para desligar as lanternas e fazer silêncio. Medo é apelido!! Não existe referência. Não tem como encontrar o caminho.
No treinamento para guia do lugar, eles precisam entrar e sair da gruta sem lanterna.
Definitivamente, não nasci pra ser guia de gruta.
O passeio foi muito rico, cheio de curiosidades sobre a formação do local.
Durou 1h30, mais ou menos.






Aprendi que gruta tem entrada e saída diferentes. Caverna, não.
Ingresso: R$ 20,00 por pessoa.
Exige-se o uso de tênis e pode-se alugar por lá.

Partimos para a Pratinha. Fica próximo à Lapa Doce, só que do outro lada da BA 432. Seguindo as placas, entra num povoado e segue uma estradinha de barro.

Atrativos: o rio Pratinha com sua água incrivelmente límpida (tirolesa e prainha) e gruta da Pratinha.
Pagamos R$ 20,00 pra acessar, mais R$ 10,00 para o passeio da gruta.

Desta vez, a expedição foi por dentro d'água. Devidamente equipados com snorkel, colete e lanterna, seguimos o guia lentamente. Mês de julho, água gelada. Mas nada tirava minha alegria por estar alí.

Segundo momento "pânico" do dia: desligar as lanternas de novo. Só que agora embaixo d'água, num ponto que mal dava pra colocar a cabeça pra fora, porque a água quase encostava no "teto". Odiei!! Mas foi só naquele instante. Faria 1000 vezes novamente.


Flutuação na Pratinha



Almoçamos no restaurante de lá e desistimos de curtir a prainha da Pratinha. A água estava muito fria!
Fizemos o mesmo percurso na volta, sentido Lençóis, e paramos no Mucugezinho.
Fica após Pai Inácio e a entrada é um restaurante rústico na beira da estrada.

Segue-se por uma trilha fácil, ladeira abaixo, que termina em outro restaurante rústico, mas melhor estruturado. É um bar no meio do mato.
A primeira impressão é fantástica! Água da cor de coca-cola. E gelada, como uma coca deve ser.
A cachoeira do Mucugezinho termina numa espécie de piscina escura. A explicação que ouvi é que a cor se dá devido riqueza de minérios na água. Bom, não sei.
Morri de medo, achando que algo ia surgir daquele fundo negro, que meus pés nem tocavam. Muito bom!




Cachoeira do Rio Mucugezinho



A ideia era continuar descendo a trilha até o Poço do Diabo. Sonhava com o pulo de 20m de altura, do tal poço. Mas aproveitamos mais um pouco o Mucugezinho, deixando o Poço pro outro dia.

Já na estrada, a próxima parada era o Morro do Pai Inácio. Fiquei encantada com esta vista, sem imaginar a maravilha que estava por vir.




A placa que indicava a entrada estava amassada e erramos algumas vezes. 
Pegamos mais uma estradinha de barro. Curta, mas cheia de curvas e pura ladeira. O carro ficou na "portaria" do morro. Paga-se R$ 10,00 para conhecer.
A trilha não é difícil, mas é íngreme e cheia de pedras. Tive que fazer uns malabares pra subir algumas delas.
Várias pausas pra apreciar a vista que ia surgindo, cada vez mais próximo dos 1120m de altitude.


Trilha do Pai Inácio

Em paz!






Finalmente o topo. O mundo estava ao meu redor. Recomendo o Pai Inácio para qualquer pessoa. A sensação de transe e êxtase é indescritível. Ventania que só complementava a grandiosidade daquilo. Quem chega vai ficando em silêncio, situando-se, encontrando-se. Procurando "o melhor lugar". O topo do Pai Inácio foi uma das experiências mais marcantes que já tive, em contato com a natureza.
Gigante, apaziguador, intenso e único.




Surreal!


Sombra do Pai Inácio




Por fim, o espetáculo mais esperado: o pôr-do-sol.
Pessoas de diversos lugares, em sintonia com aquele movimento hipnotizante. O sol sumindo bem devagar no horizonte, recebendo aplausos e provocando felicidade.


Agora é descer ligeiro, aproveitando os últimos raios.

Chegamos acabados na pousada. Nem conseguimos jantar. Banho e sono profundo.
Foi espetacular!


3º dia

Rumo ao Poço Encantado!
Fica uns 140 km distante de Lençóis, no município de Itaetê. Várias placas na estrada indicam a localização. Não tem erro!
Muita chuva, aumentando a beleza do caminho. Avistamos várias cachoeiras, da estrada mesmo.
Curiosidade: nunca vi ponte que passa apenas 1 (um!) carro.

Quem aparecer, que espere!
Chegamos cedo, antes das 10h. O ideal é visitar ao meio-dia, quando a incidência dos raios solares provoca um show de luzes na água e paredes do poço.
Só que estava chovendo pra caramba e já comecei a achar que ia ser uma droga.
Corretamente equipada com capacete e touquinha descartável e após pagar R$ 20,00, descemos sem guia por uma trilha curta e tranquila.

Escadaria para o Poço Encantado



Um guia fica na entrada do poço e outro espera lá dentro, no "mirante". Entre um e outro, percorre-se um caminho bem iluminado, porém perigoso (bom, eu achei!). Tive receio de tropeçar algumas vezes, mas foi tranquilo.


Fim do caminho. O guia oferece algumas explicações interessantes sobre geografia e clima. É proibido banho no Poço Encantado. De qualquer maneira, fiquei satisfeitíssima por só observar. É lindo!!


O encanto do Poço Encantado



Quando o passeio acabou, a tarde já começava.
De olho no mapa que vem junto com o Guia da Chapada (indispensável!!), seguimos para o Poço Azul.
Acompanhando as placas, pegamos uma estrada desgraçada. Cheia de buracos.
Depois, mais uns tantos e infinitos quilômetros de estrada de barro. E chovendo!
A impressão era que não chegaríamos tão cedo (e demorou pra caramba!).
Chegando na propriedade que encontra-se o Poço Azul, a surpresa: fomos pelo lado contrário. O carro não atravessava o rio.

Um grupo de turistas que chegou numa van, também errou o caminho. E todo mundo atravessou o rio tranquilo.
Depois do almoço, esperamos nossa vez de descer. Um grupo por vez.
É obrigatório tomar banho num chuveirão, antes de descer para o poço. E todos recebem colete.
A descida até a entrada é por uma escadaria longa, mas segura. O problema é a escadaria da entrada para dentro do poço. A escada era velha, meio acabada. Molenga. Não achei confiável, mas fui (todo mundo estava indo, inclusive umas velhinhas).

Complicado é descrever a beleza daquele lugar. No ponto permitido para flutuação, a profundidade passa dos 30 m. Perde-se a noção, pois a água é absurdamente cristalina. Maravilhoso! Único!



A tarde aproximava-se do fim e, infelizmente, o tempo do nosso grupo acabou. Atravessamos o rio e resolvemos testar outro caminho que o mapa apresentava.
A estrada também era de barro e interminável. Informaram que eram 18 km até o asfalto, mas acho que rodei mais que isto.
Começou a chover e entalamos numa ladeira. Dos dois lados da estrada, um mini barranco. Era descer de ré, cirurgicamente, sem desviar para os lados. Comecei a desesperar, pq o carro não subia. O pneu enganchou num buraco. Empurrei, coloquei pedras, madeira, tudo o que tinha pelo caminho, mas o carro continuava preso numa ladeira de barro no meio do nada, anoitecendo e sem sinal de celular. Sem nenhuma casa por perto.
Um tempo de agonia depois, chegou um morador da região, numa caminhonete. Ele ajudou a mover o carro e foi subindo devagar, de maneira que pudéssemos segui-lo sem prender em buracos.
Não lembro fisionomia ou nome, mas serei eternamente grata.

O Poço Azul fica no Município de Nova Redenção, uns 90 km distantes de Lençóis.

Foi tenso!

Conhecemos a noite de Lençóis, finalmente. Levei na mochila algumas roupas de frio e até bota (!!!), pq li inúmeras informações sobre a temperatura noturna. Bom, eu era a única pessoa de calça, casaco e bota, jantando em Lençóis. Meio mundo estava de havaianas, bermuda e camiseta.
Mas que estava frio, estava! (pelo menos pra mim)
Opções de restaurantes não faltaram, gente de todo lugar do mundo, inúmeros idiomas. Ambiente agradável e transbordando de positividade.
Jantamos num restaurante super bacana, numa ruazinha estreita, colorida e movimentada.

4º dia

Seguimos para o município de Andaraí. 20 km distante de Lençóis.
Destino: Pantanal Marimbus.
Como todos os outros pontos turísticos, este também é bem sinalizado. Sem dificuldades para encontrar.
Pagamos R$ 15,00 cada um e seguimos de carro com o guia, por dentro da propriedade que dá acesso ao mini pantanal.
O carro fica num ponto de apoio no meio da mata e percorremos uma trilha curta até a beira do rio. Equipados com coletes e remos (este é opcional), embarcamos.



Foi uma experiência bacana e cansativa. Morri de pena do guia, remando tanto tempo e me aventurei com os remos (no outro dia vi o resultado nos ombros doloridos).
O guia, Seu Louro (Facebook: Louro Arte - O neguinho de Jesus) foi muito gente fina. Nem parecia que estava fazendo esforço e contou tudo sobre os filhos, parentes, garimpo, flora, fauna e o artesanato que vende. A conversa tornou o passeio mais agradável.

Marimbus


O programa demorou umas 3h, entre caminhada, passeio de barco e parada para banho. De todos, foi o passeio que menos gostei. E o único que não faria de novo. Mas esta é a opinião de uma pessoa que não gosta de barcos e ficou impressionada com as histórias de cobras, que o Seu Louro contou.

Paramos para observar algumas cachoeiras pelo caminho, mas o Poço do Diabo estava me esperando e era o ponto que mais estava animada para conhecer.

De volta ao Mucugezinho, almoçamos no tal restaurante rústico, rapidinho, e descemos para a cachoeira novamente. Desta vez, muito diferente do primeiro dia. :(
A chuva veio e transformou a cachoeirinha numa corredeira feroz. O poço que tomei banho, dois dias antes, transformou-se num ponto perigoso e hostil.


Cachoeira do Mucugezinho - depois da tempestade


Mas o Poço do Diabo continuava lá e nada me faria desistir do salto com 20 m de altura, que entraria para a história (minha história).
Seguimos a trilha e chegamos ao topo do poço. Água!! Muita água! Nem os nativos estavam pulando.
Fiquei triste por uns segundos, mas o espetáculo que presenciei riscou qualquer resquício de decepção. Aquilo era bonito demais pra deixar alguém triste.


Poço do diabo visto por cima



Aproveitei a beleza do topo do Poço e resolvi descer o paredão. A trilha estava um pouco difícil (talvez por conta da chuva, talvez pela ausência do tênis), mas sem imprevistos.






Trilha para o poço


Se ainda existia alguma pontinha de insatisfação por não pular, dissipou-se com a visão que tive da cachoeira.
Aquilo era sinônimo de equilíbrio e tranquilidade.
Foi o segundo "momento off" da viagem. E o segundo ponto que mais gostei de visitar, perdendo apenas para o Pai Inácio.
Aproveitamos bastante aquele espetáculo proporcionado pela imponência da cachoeira.Surpreendente!



Definitivamente, não dava pra pular.


Saí dali renovada (e depois, aborrecida com um cidadão que jogou uma latinha na cachoeira).
Ainda volto pra cumprir o salto do Poço do Diabo.

À noite, outra volta no centro de Lençóis. Lembranças,camisetas e artesanato. Praxe das viagens.
Jantamos numa pizzaria agradabilíssima, cheia de gente simpática.

Agora é dormir, que o outro dia seria longo.

5º dia

Despedida! Planejamos conhecer as cachoeiras de Lençóis, mas preferimos fazer a viagem de volta.
Naquela manhã começavam meus 28 anos.
A Chapada Diamantina foi o melhor presente que eu poderia ganhar.
Foi um aniversário em grande estilo.

Definitivamente, a melhor viagem que fiz até hoje. Com planos traçados para retorno e conhecer o outro lado.

Chapada Diamantina, eu fui!